sexta-feira, 16 de setembro de 2011

“A Ferrovia trouxe o germe da modernidade”

   
Batistina defende o transporte coletivo ferroviário como solução para o caos no trânsito hoje


O Projeto Divina História resgatou na noite de quinta-feira, 15 de setembro, mais uma parte da história de Divinópolis. Na presença de antigos ferroviários, alunos e estudiosos da história de Divinópolis, a pesquisadora da Funedi/Uemg, Socióloga e Doutora em Educação, prestando pós-doutorado no Centro de Memórias da Unicamp, Batistina Maria de Sousa Corgozinho, falou sobre a importância do trabalhador ferroviário para o desenvolvimento da cidade. Antes de iniciar a palestra, Batistina doou três exemplares de seu livro 'Nas linhas da Modernidade', que foi sorteado entre os presentes.

Em sua palestra, Batistina afirmou que o processo de desenvolvimento de Divinópolis foi estimulado pela ferrovia, uma das principais atividades na cidade até 1950. A historiadora destacou quatro pontos fundamentais das atividades da ferrovia – oficinas, estação, tração e via permanente.

Em suas pesquisas a historiadora constatou que, o então Arraial do Espirito Santo, local de passagem dos tropeiros, estava no caminho da Estrada de Ferro do Oeste Mineiro – EFOM. A implantação da EFOM no início do século XIX foi significativa para o desenvolvimento do município.

Em 1890 foi construída a primeira estação, chamada de Estação Henrique Galvão. Essa obra trouxe trabalhadores, na sua maioria estrangeiros, diversificando as característica dos moradores. Houve então uma ruptura na ordem social, conflitos entre antigos habitantes e novos. “A ferrovia trouxe o germe da modernidade. Divinópolis se tornou cosmopolita, revolucionando a noção de tempo e espaço, elemento que inoculou o desejo pelo novo, pelo moderno”, afirmou Batistina.

A ferrovia fazia a integração de Belo Horizonte com o Triângulo Mineiro, com um entroncamento em Divinópolis, implantado em 1910 devido o trabalho junto aos governantes da época, das lideranças locais: Major Francisco Machado Gontijo e Cel. Antônio Olímpio de Moraes.

Em pouco tempo houve um crescimento demográfico significativo, diversificação do comércio local, da prestação de serviço e das atividades culturais, dando condições favoráveis para a autonomia do município.

A oficina, da então Rede Ferrovia, pertencente ao Governo Federal, foi construída em 1910. Em 30 de agosto de 1911 criou-se o município de Henrique Galvão. No ano seguinte, foi constituída a primeira Câmara de Vereadores, nomeando o município de Divinópolis.

A ferrovia trouxe a quebra da hegemonia da igreja Católica com a fundação da Igreja Batista. As construções também tiveram influências das diferentes nacionalidade, dos novos moradores trabalhadores na ferrovia.

Outro ponto destacado por Batistina foi as greves dos ferroviários nas décadas de 40 e 50 que contavam com a participação efetiva das famílias. Neste momento, a mulher se destacou nos movimentos sociais em Divinópolis, muito antes do que em outros lugares.

Por fim, a historiadora falou com pesar, que hoje, a ferrovia é tratada como estorvo, o que trouxe tanto desenvolvimento para cidade. "Isso se deve ao fato de que, desde os anos 50, 60 em diante, tem se investido em rodovias e transporte rodoviário, tornando o transporte ferroviário precário", explica.

Batistina foi aplaudida pelos presentes, ao defender o transporte coletivo ferroviário. “Sou contrária a retirada dos trilhos de Divinópolis, ao invés disso, deveria ser investido no transporte coletivo ferroviário, o que seria uma solução para o caos no trânsito”.

Após a palestra, o Vereador Edson Sousa, que também pertenceu a Rede Ferroviária, utilizou da palavra e apresentou uma curiosidade. “Foi criada a expressão entre os ferroviários, 'Joana foi casar', que quando utilizada, significava que a greve estava instaurada” e para fechar, Edson com saudosismo afirmou: “Hoje, estou vereador, no fundo da minha alma sou ferroviário”.

No encerramento, o ferroviário Lucas Zeferino presenteou Batistina com um livro caixa, de 1951, onde o contador da oficina fazia suas anotações. A historiadora agradeceu o presente e afirmou que o mesmo fará parte do acervo do Centro de Memória da Funedi/Uemg e será fonte de pesquisa para futuras gerações.